Blog liberto a público de arte abstrata-concreta, literatura mundana, jornalismo experimental e direito cotidiano. ¡Pensare reactivus est!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Terra em Transe




Terra em Transe- resenha crítica do filme

Terra em Transe de 1967 é um misto de filme e realidade, pois relaciona nos seus quadros elementos-personagens do país fictício El Dorado que tudo nos leva a pensar no Brasil: Paulo, Diaz, Vieira, etc. são maquinalmente associados, em nosso imaginário, aos políticos marqueteiros de nossa pátria mal-amada. Os seus carácteres, suas figuras, seus papéis avisam-nos para o futuro - quais modelos de poder ou organização - a vivenciarmos; isto é, ele nos delieia pré-visões sobre algumas das conseqüências produzidas pelas decisões dos mandatários que escolhêssemos, ou fôssemos obrigados ideologicamente a compactuar com eles tais.

Além do mais, retrata a película as crises e/ou transes de um ser humano ingresso nesse jogo capital de pressões, desejos, confinamentos e utopias; o que então se diz ali poética, figurativa ou metalingüísticamente é o mesmo que há acontecido nos palácios, nas multinacionais e nos comícios (sem lembrar das festas privativas liberalistas...).

A coadunação dos diálogos, fotografias e cenários absorve todo o pensamento cinemanovista de Gláuber Rocha: aparente está o propósito de misturar a transcrição fidelizada do panorama sócio-cultural da época com a experimentação técnico-conceptual marginalizada do grupo de cinegrafistas eclodintes.

Os tipos categóricos da ambição, da submissão, do impasse, e todas as outras veleidades possíveis ao indivíduo por causa das provações terrenas encontram ali responsável lição de moral, "censura" precisa e mister desnudamento à massa, a um só instantâneo estado mesclado aos ignorantes agires: eis, postos aí, as funções representadas pelo público.

JotaPê
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domingo, 14 de janeiro de 2007

Deus e o Diabo na Terra do Sol




Deus e o Diabo na Terra do Sol - resenha crítica do filme

Deus e o Diabo na Terra do Sol de 1964 é a mais louca razão, o menos quieto choque, um ponto-destaque na cinematologia brasileira. Ali, efetivamente, começa a despertar e a expandir o movimento de cinema denominado "novo", em relação ao qual inicia-se uma independentização das matérias produtivas, um libertar dos limitados formatos, empirismo e atitude teorética engendrando inovadoras práticas.

Todo o monumento é novidade: as gravações sem cortes ou correção das cenas, a composição dos personagens, o inserir dos figurantes, a paisagem dos sets para filmagem, ambientação, figurino; isso só para comentar as imagens! Junto a isto, reinventam-se as maneiras de musicar e dialogar sobre as gravações: todo o roteiro - as conversas, pensamentos e letras melódicas vêm do genial meio instinto meia consciência glauberiana.

Corisco, Rosa, Manuel, Sebastião, Antônio das Mortes... criaturas sobrelevadas da arte cênica, captados magnitude e essência de cada intérprete, dão termo ao velho cinema de textos marcados e gestos premeditados; qualquer sentimento espontâneo, toda manifestação teatralística emotivada ali e então já completaria o motivo de amoldar-se aí agora ao diferente atuar dos atores e atrizes, à sorte de latentes improvisos.

O sertão mundo virar mar, o oceano mutar em descampado árido; as idéias do pobre chegarem à realidade, os desideratos dos ricos tornarem à imaginação mixuruca. A proposição envolvida é a coragem de revoltar-se e convergir do povo à revolução ante as reprimendas: sejam elas religiosas, econômicas ou políticas.

O sabre, a espingarda, a cruz - alguns símbolos influentes em quase todas as passagens. O diabo louro, o deus negro e o justiceiro, matador de cangaceiro: alegorias componentes do perfil de sol-a-sol cantado e violado pelo cego retirante nordestino.

JotaPê
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