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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

MÍDIA E CIDADANIA: A EDUCOMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE – RÁDIO, TV E WEB ACADÊMICAS COMO VIAS CONTEMPORÂNEAS DAS IDÉIAS DE PAULO FREIRE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – CCE
CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO


MÍDIA E CIDADANIA: A EDUCOMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE –
RÁDIO, TV E WEB ACADÊMICAS COMO VIAS CONTEMPORÂNEAS
DAS IDÉIAS DE PAULO FREIRE


Artigo acadêmico da disciplina Sociologia da Comunicação, do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí – UFPI, sob a orientação do Professor Magnus Martins Pinheiro, para obtenção de nota da avaliação curricular na respectiva disciplina.

TERESINA - PI
MAIO/2006


SUMÁRIO

Resumo..........................................................................................04
Qual o desafio da Comunicação Social na Universidade?................05
Por uma outra Comunicação..........................................................06
Idéias pedagógicas e sócio-políticas de Paulo Freire........................10
Rádio, Tv e Web Acadêmicas: vias alternativas................................12
Inferências objetivas.......................................................................26
Referências bibliográficas...............................................................27


MÍDIA E CIDADANIA: A EDUCOMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE –
RÁDIO, TV E WEB ACADÊMICAS COMO VIAS CONTEMPORÂNEAS
DAS IDÉIAS DE PAULO FREIRE


João Paulo Santos Mourão*

Resumo:
A comunicação social praticada através da mídia tradicional percorre diversificados modelos teoréticos/pragmáticos na intenção de preparar os profissionais ao mercado de trabalho. Decorrente disso, há acentuada crise na formação ética-cidadã do profissional de imprensa: efetivada sobretudo por desmotivação e despreparo aos estudantes da academia, em seus percursos de graduação. Para completo êxito da educomunicação, proposta cujos professores adeptos têm-na evoluído progressivamente e alcançado resultados satisfatórios numerosos, constitui em lógico repasse de valores cidadãos para os espectadores da informação. A partir daí, mesmo assim, as experiências desenvolvidas na utilização de rádio, tv e web acadêmicas como pólos de comunicação pedagogicamente correta exercem fundamental suporte à feitura dessa práxis democrática contemporânea.


* João Paulo Santos Mourão é estudante de graduação no 4º período de Comunicação Social – Jornalismo da UFPI e participante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Estratégias de Comunicação – NEPEC/UFPI.






Qual o desafio da Comunicação Social na Universidade?

Oportuno se faz aqui citar, a princípio de exposição, a ementa de um curso bastante renomado e vanguardista na Comunicação Social, qual seja, o da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Ei-lo a seguir:
“O profissional de Jornalismo deve estar apto a desenvolver as seguintes atividades: Reportagem (para veículos impressos e eletrônicos), reportagem fotográfica, diagramação, redação, edição (título, legendas, adequação de matéria jornalística visando publicação), coordenação de equipes de cobertura, produção e edição de artigos, crônicas e comentários, titulação, interpretação, correção e coordenação de matéria a ser divulgada; entrevista e reportagem; planejamento; organização e direção de serviços técnicos de jornalismo; revisão de originais; organização e conservação de arquivo jornalístico e de pesquisa; diagramação; execução de pesquisa em comunicação; ensino da Comunicação Social/Jornalismo.

Formar profissionais que desenvolvam a comunicação como prática social, utilizando-se da reflexão teórica da criatividade e do espírito crítico. Aperfeiçoar técnicas de produção de mensagens jornalísticas tratando a linguagem como ação e a comunicação como ato social; desenvolver a pesquisa e a reflexão sobre a comunicação e seu impacto na sociedade; explorar os novos usos para a comunicação na sociedade.

O jornalista tem amplo campo de trabalho nos diversos meios e sistemas de comunicação como: jornal, revista, rádio, televisão, assessoria de imprensa, internet, novas tecnologias de comunicação, consultorias de comunicação, assessorias políticas etc. A profissão é regulamentada pelo Decreto nº 83.284, de 13/03/79.”
Notável a presença de elementos formativos da cidadania do/pelo jornalista no segundo parágrafo marcado. E essa concepção é o eixo condutor de nossa idéia: o desafio da Comunicação na atualidade é possibilitar ao povo que recebe o fato e por meio dele pode transformar a sociedade, efetuando-se a verdadeira participação engajada na política.
Por uma outra Comunicação

Em entrevista à revista Nós da Escola veiculada no portal Fazendo Media em 25/04/2006, o professor pós-doutor da Universidade Federal Fluminense Dênis de Moraes nos enfatiza a priorização a ser dada rumo à democratização de acesso, uso e interação aos/nos meios de comunicação:
“Um outro mundo só é possível se houver um processo de democratização efetiva da comunicação? Por quê?
O sistema de comunicação atual apresenta duas graves distorções: 1) a propriedade dos meios está absurdamente concentrada nas mãos de um reduzido número de grupos empresariais, a maioria deles transnacionais, que controlam a produção e a difusão de grande parte das informações e dos entretenimentos em circulação; 2) essas organizações atuam de maneira praticamente autônoma, priorizando estratégicas mercadológicas que rentabilizem ao máximo seus investimentos e realçando determinados valores na elaboração de suas programações. São vários os impactos e efeitos negativos, e eu destaco dois: a escassa diversidade ideológica nos conteúdos veiculados e a comercialização de bens simbólicos numa proporção verdadeiramente alarmante. É impossível imaginar uma democratização efetiva da vida social sem uma profunda revisão da configuração elitista e mercantilizada da mídia. Afinal, ela ocupa papel decisivo na reverberação de idéias e visões de mundo, interferindo, de modo significativo, na conformação do imaginário social. Para assegurar a livre circulação de informações e o pluralismo cultural, impõe-se um controle democrático sobre esses aparatos ideológico-culturais, principalmente aqueles que são concessionários de canais de televisão e rádio. Se obtêm licenças para operar, é mais do que justo que as empresas concessionárias se submetam a regras e marcos estabelecidos pelo poder público, em consonância com os interesses da coletividade. Os canais pertencem à sociedade, e não aos players de mídia. Do mesmo modo, é urgente uma profunda revisão da legislação sobre os meios de comunicação, a fim de que se fixem marcos regulatórios que contemplem os interesses sociais e coíbam a concentração e a oligopolização dos meios. Exijamos políticas públicas de comunicação assentadas em mecanismos democraticamente instituídos de regulação, de concessão, de tributação e de fiscalização. Políticas debatidas por segmentos representativos da opinião pública e formuladas com realismo, considerando as transformações da era digital e seus efeitos socioeconômicos.

Qual o papel da contra-informação no contexto da globalização?
Contra-informação é uma noção que permite várias interpretações e apropriações. Se a entendermos como práticas de comunicação voltadas à difusão de conteúdos que questionem o status quo e defendam os direitos da cidadania, penso que seu papel é valioso. Trata-se de alargar e interligar, planetariamente, experiências independentes de divulgação, a partir de ações cooperativas e colaborativas capazes de multiplicar e entrosar fontes de informação, fomentando o debate de idéias transformadoras e o pluralismo cultural. A comunicação eletrônica em rede, particularmente a Internet, abre um campo de possibilidades a explorar e aprimorar. As tecnologias digitais introduzem ferramentas comunicacionais de novo tipo e instituem espaços promissores de intercâmbio, participação e mobilização. Com baixo custo, rapidez e arquitetura descentralizada, a rede favorece a difusão extensiva de informações e conhecimentos, sem submetê-los às hierarquias de juízos e aos filtros da mídia convencional. No espaço desterritorializado da Web, movimentos comunitários e organismos sociais podem difundir percepções críticas e campanhas em prol dos direitos da cidadania. É importante, porém, salientar que a Internet constitui uma vertente complementar ou suplementar de informação, expressão e interação. Não substitui ou anula os demais canais, que continuam válidos e bastante necessários. Veja bem: apontar potencialidades da rede virtual em absoluto significa subordinar as lutas políticas ao avanço tecnológico, ou ainda aceitar impulsos voluntaristas que tendem a menosprezar as mediações sociais e os mecanismos clássicos de representação política. Continuo achando que é no território físico, socialmente vivenciado, que se tece o imaginário do futuro.

O que você pensa sobre os projetos de inclusão social pela mídia, TVs e jornais comunitários? Até que ponto são válidos? De uma forma geral eles costumam reproduzir num ambiente específico o discurso da mídia em relação a qual se apresentam como "alternativa"?
Tenho grande apreço pelos projetos de inclusão social através de meios alternativos de comunicação, principalmente os que se estruturam a partir de vínculos com as comunidades pobres e marginalizadas. Isso é fundamental como resposta e reação à crônica desconfiança e mesmo ao desprezo da grande mídia pela vida, pelos valores e pelos modos de expressão da classe operária. Quanto mais rádios, televisões e oficinas comunitárias tivermos, mais chance teremos de contribuir para a formação de consciência cidadã, inclusive dando voz e imagem às aspirações e aos sentimentos das maiorias excluídas. É verdade que, às vezes, percebemos a reprodução de elementos do discurso informativo da mídia num jornal ou num programa comunitário. Embora a renovação discursiva deva ser um objetivo a perseguir, não me parece que a reprodução de certos padrões constitua, em si, um obstáculo intransponível à comunicação descentralizada e participativa. A linguagem, sem dúvida, é fator relevante e deve ser imaginativa e ousada; mas temos que avaliar, simultaneamente, a natureza dos conteúdos transmitidos, sua adequação ao público-alvo, sua coerência ideológico-cultural, sua capacidade de mexer com as emoções e despertar o ânimo dos destinatários para o enfrentamento da realidade. Só não podemos cultivar a ilusão de que resolveremos tudo através de projetos comunitários, por mais que sejam componentes indispensáveis na longa luta pela democratização da comunicação. Temos que perseverar, em todos os planos, para mudar radicalmente a sociedade brutalizada e mercantilizada que aí está. Implica revitalizar a sociedade civil enquanto arena reivindicante, articular forças em todos os quadrantes para revalorizar a política como âmbito de representação de anseios e construir alternativas socioeconômicas e político-culturais humanizadoras.

Como a escola pública pode contribuir para trabalhar com crianças e adolescentes a maneira de lidar com a informação, de se relacionar com a mídia e com a sociedade audiovisual? Como o tema da "democratização da comunicação" pode ser abordado por professores no seu dia a dia com os alunos?
Há vários caminhos para uma ação conseqüente e articulada: projetos de leitura crítica dos meios de comunicação; oficinas de criação de conteúdos informativo-culturais alternativos; oficinas de webmídia para aproveitamento educativo-cultural de espaços virtuais de difusão e interação (blogs, publicações eletrônicas, murais, grupos de discussão, comunidades de interesses); estímulo à pesquisa comparada na Web, para evidenciar como os fatos e os acontecimentos podem ser abordados de distintos modos em diferentes veículos de informação; ciclos de palestras de profissionais comprometidos com o desenvolvimento de projetos sérios de comunicação participativa e inclusiva. Mas tudo isso precisa obedecer a uma concepção estratégica que integre ações formativas e intervenções críticas, no marco de políticas de comunicação de curto, médio e longo prazos. Isto exige um persistente e demorado processo de lutas, campanhas reivindicatórias e pressões organizadas para se democratizar a esfera pública, realçando-se o papel dos meios e sistemas comunicacionais na elaboração de programas, produtos, discursos e linguagens socioculturais não contaminados pela obsessão neurótica de lucratividade - obsessão constitutiva e condicionadora da lógica mercantil e perversa do modo de produção capitalista.”
Os trechos sublinhados configuram a necessidade extrema de se criarem redes alternativas na universidade e na comunidade em geral para haver perfeita harmonia nas relações inter-pessoais que fazem funcionar uma sociedade civilizada.
Os elos da corrente de (in)formação a qual nos circunda e à qual nos posicionamos acerca, também, devem ser conectados de forma completa e isonômica, tal qual programam e prescrevem os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Constituição Federal, da Lei Geral das Comunicações, da Lei de Imprensa, etc. mas (e mais) ainda da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dos Parâmetros Curriculares Nacionais e demais institutos federativo-estatais voltados à disseminação de ciência, cultura e socialização do ser coletivo.
Hodiernamente, contudo, observa-se uma obstacularização a esses projetos na academia (local/momento para prestação de resposta ao empenho do trabalho e manifestação de retribuição à inserção científica proporcionadas pela comunidade pagante dos impostos e taxas que mantém a universidade pública brasileira), ao invés de fomento ou incentivo cabidos e já de há muito faltosos para o segmento discente/docente. Mas o quê provoca tudo isso e quais os efeitos/conseqüências disso para o futuro da Comunicação Social?!

Idéias pedagógicas e sócio-políticas de Paulo Freire

Em palestra proferida ao Seminário Regional sobre Alternativas de Alfabetização para a América Latina e o Caribe, promovido e sediado em Brasília no ano de 1988, Paulo Freire tematiza a Alfabetização como elemento de formação da Cidadania.
O sábio educomunicador-professor, inicia analisando a combinação dos termos na frase-título de seu discurso, conforme se pode observar no trecho selecionado e transcrito a seguir (depois reproduzido na coletânea Política e Educação: ensaios):
“Seria mais forte ainda se disséssemos: a alfabetização como formação da cidadania ou a alfabetização como formadora da cidadania. Por outro lado, se faz necessário, neste exercício, relembrar que cidadão significa indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado e que cidadania tem que ver com condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão.”
E segue explicando que se faz mister, na análise intelectiva da frase, indagar os limites da alfabetização como prática capaz de geração nos alfabetizandos à assunção da cidadania ou não. Além disso, porque a compreensão dos limites da prática educativa demanda indiscutivelmente a claridade política dos Edu[comuni]cadores com relação a seu objeto enfocado.
Demanda até mesmo que o Edu[comuni]cador assuma a politicidade de sua prática. Não bastaria dizer ser a Edu[comuni]cação um ato político assim como não seria bastante dizer que o ato político é também, reciprocamente, Edu[comuni]cativo. O que se torna mais difícil, sugere Paulo Freire, é a tomada da história na mão. Provém daí a insistência do professor querer reinventar experiências, por meio da intervenção histórica, cultural e política via Edu[comuni]cação.
Daí existir a necessidade de competência científica que não existe por ela e para ela, mas a serviço de algo e de alguém, portanto contra algo e contra alguém adversos ao progresso da democratização e cidadanização.
Não menos prejudicial à prática progressista educomunicológica atual é a dicotomia entre a prática e a teoria que, de acordo com Paulo Freire, ora se vive em posição de caráter basista, em que só a prática em áreas populares ou comunidades marginais é válida, funcionando como uma espécie de passaporte do militante, ou então só se vislumbraria válida uma teorização academicista ou intelectualista dos processos sociais. Na verdade mesmo, o objetivo é a busca da unidade dialética, contraditória, entre teoria e prática, jamais sua dicotomia retrógrada, antiquada.
Para conclusão da sua fala, o grandioso mestre Paulo Freire sistematiza que a alfabetização tem a ver com a identidade individual e de classe, que ela tem a ver com a formação de cidadania também. Mas ainda nos diz que uma tal formação de alfabetizados que copiam e repetem conhecimentos alheios irreflexivamente sentenciam ao fato de que ler e escrever não são ferramentas suficientes para perfilar a plenitude da cidadania.
Especial é o pensamento desse autor ao explicar a relação da alfabetização burocrática e neutra com as realidades políticas, econômicas, culturais e sociais existidas no seio citadino:
“E aí se enraíza todo o problema, porque, de acordo com a pedagogia da liberdade, preparar para a democracia não pode significar somente converter o analfabeto em eleitor, condicionando-o às alternativas de um esquema de poder já existente. Uma educação deve preparar, ao mesmo tempo, para um juízo crítico das alternativas propostas pela elite, e dar possibilidade de escolher o próprio caminho.”
(...)
“No quadro do Movimento de Educação Popular, os alunos formados nos círculos de cultura são mais exigentes que os líderes populistas, vêem mais nitidamente a diferença entre as promessas feitas às massas e sua realização efetiva.”
Pois é nesse retrato e recorte pedagógico que reside a inserção de uma programação independente de interesses fechados ou reprodutivistas brasileiras: os meios de imprensa a serviço da democratização cidadã.
Rádio, Tv e Web Acadêmicas: vias alternativas

Exporei aqui uma seleta de trechos sobre cada meio e na visão de autores competentes em sua esfera profissional para falar do assunto.
“RADIODIFUSÃO: O GOVERNO QUER CRIAR UMA EMISSORA POR MUNICÍPIO
Cristiana Nepomuceno
M atéria gentilmente cedida pela Plano Editorial, publicada no Jornal Telecom, edição 179 em Setembro de 2003.

A universalização da radiodifusão é meta no PPA. Até 2007, 95% dos municípios têm que ter pelo menos uma emissora, seja ela rádio comunitária ou emissora de rádio ou TV Comercial. Para isso, dentro de dois meses o Ministério das Comunicações começa a licitar novas emissoras e a publicar avisos para a abertura de rádios comunitárias.

O Brasil tem hoje 3 mil emissoras de rádio e 500 de TV comerciais e cerca de 2 mil rádios comunitárias, mas ainda assim 55% dos municípios brasileiros não têm uma emissora de radiodifusão. Para permitir que essas cidades tenham, pelo menos, um meio de comunicação, o governo Lula propôs, no Plano Plurianual de Investimentos (PPA) 2004-2007, a universalização dos serviços de radiodifusão. Essa, alías, é uma das poucas novidades sobre o setor de radiodifusão que consta do documento - a outra prioridade é a implantação da TV digital. A meta é que, até 2007, 95% dos municípios brasileiros tenham uma estação de radiodifusão, que pode ser uma rádio comunitária, uma FM comercial ou uma TV. Hoje, segundo o PPA, apenas 45% das cidades brasileiras contam com uma emissora. Para multiplicar o número de emissoras e levá-las a localidades que não despertam interesse comercial dos radiodifusores tradicionais, o governo concederá novas autorizações de rádios comunitárias e abrirá licitações para concessões de rádio e TVs comerciais.

O secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Eugênio Fraga, adianta que, em dois meses, devem ser publicados novos avisos para a abertura de rádios comunitárias em 400 municípios, alguns deles incluídos no mapa do Fome Zero. Também serão colocados editais de concessão para instalação de rádios e TVs comerciais em cem a 200 cidades. Fraga explica que, no caso das emissoras comerciais, a maior parte das concessões será voltada para atender o mercado de rádio, que tem demanda maior e custo inferior ao de implantação de uma TV. Atualmente, tramitam no Minicom 8 mil processos relativos à concessão de rádios e TVs e, desde que assumiu a secretaria, a equipe de Fraga já conseguiu fazer com que 4.428 processos, correspondentes a 479 localidades, avançassem na tramitação.

Mas, segundo o PPA, a universalização da radiodifusão não se dará apenas por meio de licitações. É preciso alterar o marco regulatório para desconcentrar a propriedade dos meios de comunicações.

Os grupos controlam o setor

O documento afirma que as 3 mil emissoras de rádio e 500 emissoras de TV são controladas por apenas nove grupos empresariais que recebem quase 90% do faturamento do setor e controlam também novas tecnologias, com a TV a cabo. De acordo com Fraga, esse marco regulatório será a nova Lei de Comunicação Eletrônica de Massa, cujo debate o governo quer iniciar no ano que vem. Mas ele afirma que ainda é cedo para adiantar qual será a orientação da nova lei, se irá tratar de todo o setor de comunicação, incluindo TV digital e TV paga ou apenas radiodifusão. O PT sempre defendeu que o novo marco regulatório tratasse de todas as formas de mídia, inclusive das novas tecnologias. Provavelmente, a nova lei também tratará da questão da diversificação do conteúdo. No PPA, inclusive, está prevista a criação do programa "Democratização do Acesso à Informação Jornalística, Educacional e Cultural", que, conforme o documento, "pretende contribuir para a inserção social e o desenvolvimento a cidadania".

Mas, antes da nova lei, o Minicom está disposto a mexer em vespeiro - já que os radiodifusores costumam a apresentar uma resistência histórica e eficiente quando o assunto é alterar os mecanismos de funcionamento do mercado - e estuda modificar algumas regras de licitação da radiodifusão comercial. Segundo Fraga, o governo quer, por exemplo, evitar o aparecimento de laranjas nas licitações - empresas que disputam e vencem as concorrências com o único objeto de vender a outorga a terceiros posteriormente. O ministério detectou, recentemente, que um número pequeno de empresas sempre disputa e vence as licitações, mas nunca assina o contrato de concessão. O Minicom formulou uma denúncia e a encaminhou ao Ministério Público, que investiga o caso. Outra mudança poderá ser feita na análise das propostas técnicas. Hoje, de acordo com Fraga, a proposta de preço sempre define o vencedor da licitação. E as empresas apresentam propostas técnicas sempre iguais, com um formato pronto apenas para atender às exigências do edital. A idéia é avaliar com mais critério a proposta técnica e equilibrar os pesos das duas propostas. O Minicom está preocupado ainda em fazer com que as emissoras cumpram as determinações de veiculação de conteúdo educativo e local.

Mais transparência aos processos

O ministério também começa a dar transparência aos processos de concessão e autorização de emissoras. Apesar da deficiência na infra-estrutura de informática e da escassez de recursos, conseguiu montar um Sistema de Acompanhamento de Processo (CPROD), que, por enquanto, é acessível apenas na rede interna do Minicom, por meio do qual é possível acompanhar todo o andamento do processo de concessão. O ministério também quer interligar sua base de dados com a base de dados do Sitar (Sistema de Informações Técnicas Para Administração das Rádiocomunicações) da Anatel, que detém informações importantes dos radiodifusores como os nomes dos acionistas, o CNPJ da empresa ou se ela é devedora do Fistel. De acordo com Eugênio Fraga, a meta é que, até o início do ano que vem, todos esses dados possam ser consultados por qualquer cidadão via página do Minicom na Internet.

No caso das rádios comunitárias, várias informações já estão disponíveis no site do Minicom, como quem entrou com o pedido e a situação atual do processo. Além disso, hoje, qualquer entidade pode pedir vista para consultar o processo, o que não era permitido antes. "Agora, está sendo possível o controle social", afirma Fraga. No início do ano existiam 4.400 processos de rádios comunitárias paralisados no Minicom. Em abril, foi criado um grupo de trabalho, com representantes do Executivo, das rádios comunitárias, radiodifusores e sociedade civil, para acelera a análise dos processos. Depois de três meses, o grupo identificou problemas em 2 mil processos e deu prosseguimento aos 2.200 restantes. E, no final de agosto, 1.821 processos haviam sido autorizados. O problema é que, enquanto o grupo trabalhava, outros mil pedidos chegaram ao Minicom. De acordo com Fraga, o objetivo prioritário da secretaria não é modificar a legislação de rádios comunitárias e, sim, agilizar e desburocratizar a tramitação dos processos.

Antes, o prazo médio de conclusão de um processo era de 18 meses, agora, se não houver problemas com a documentação da entidade e com o projeto da rádio, ele pode ser concluído em 60 dias. Dentre as modificações possíveis na legislação, Fraga vê com simpatia a idéia de ampliar a potência das rádios comunitárias - hoje o permitido são 25 watts - nas localidades com menos de mil habitantes, e que não despertam interesse de radiodifusores, para que o sinal possa atingir a área rural.”

“TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA:
TV Educativa em Terceiro Grau

Gabriel Priolli

A Televisão Universitária não é apenas o segmento mais novo da televisão brasileira. É também o de mais rápido crescimento. A partir de 1995, quando tomaram impulso as iniciativas nas instituições de ensino superior (IES), de se organizarem para a produção e veiculação regular de conteúdos educativos-culturais por televisão, nada menos que 34 canais surgiram no país, em diversas operadoras de TV a cabo – uma média impressionante de quase três canais por ano. Somando-se a eles as emissoras educativas tradicionais, de sinal aberto, que são controladas por IES, o número de canais em operação sobe para 49. Já são cerca de 100 as IES que têm alguma atividade de produção de vídeo no Brasil e 87 delas utilizam-se de canais universitários.

São números expressivos, sob qualquer critério. Eles revelam que a universidade brasileira, muito rapidamente, vai deixando para trás antigos preconceitos contra a televisão e passa a confiar no potencial dessa mídia para a difusão de informação, cultura, educação e cidadania. A mesma universidade brasileira, que levou quase 20 anos para admitir que a televisão podia ser um objeto sério de pesquisa acadêmica (a TV surgiu no país em 1950 e apenas no final dos anos 1960 apareceram os primeiros estudos sobre ela, no campo da sociologia e da comunicação), agora dá um grande salto em seu processo de compreensão do fenômeno televisual e se põe, ela mesma, a fazer TV.

É um quadro animador, visto em seu conjunto. Mas é também preocupante, se analisado em pormenores, sobretudo nos aspectos da qualidade da programação oferecida ao público, da capacitação técnica do pessoal envolvido, e da acomodação dos novos núcleos de TV no interior dos organismos acadêmicos, com o forte contraste de mentalidade, ritmo de trabalho e necessidades que ela envolve. A Televisão Universitária está crescendo vertiginosamente, sim, e esse crescimento aponta para uma nova era no uso das tecnologias audiovisuais pelas IES. Muitos problemas devem ser resolvidos, entretanto, para que a multiplicação das antenas constitua-se, efetivamente, em florescimento da cultura e da educação nas telas de televisão.

Televisão Educativa. Nascida e criada Universitária.

A televisão educativa brasileira, a rigor, nasceu universitária. A primeira emissora educativa a entrar em operação no país, em 1967, foi a TV Universitária do Recife, vinculada à Universidade Federal de Pernambuco. Depois dela, pelo menos outras 12 instituições de ensino superior receberam outorgas de canais educativos abertos e vêm operando as estações, com suporte de programação das duas grandes emissoras educativas do país, que têm maior capacidade de produção e constituíram-se em “cabeças de rede”: a TV Cultura de São Paulo, da Fundação Padre Anchieta, e a TV Educativa do Rio de Janeiro, da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.

Nem por isso, entretanto, é possível dizer que a Televisão Universitária começou no Brasil há mais de 35 anos. As emissoras operadas por IES no campo da radiodifusão (TV aberta, nas freqüências VHF ou UHF), hoje como antes, não oferecem ao público telespectador uma programação segmentada, especificamente universitária, entendida como aquela que revele os personagens, as atividades e os pontos de vista do mundo acadêmico. A vinculação dessas estações com as IES é, sobretudo, administrativa e financeira, até porque, dada as suas limitações de produção, a maior parte de seu conteúdo vem de fora, “importado” da TV Cultura-SP e da TVE-Rio.

Não se trata, portanto, de emissoras universitárias no sentido da expressão televisual do universo acadêmico. Ao contrário, a sua perpectiva é sempre generalista e, mesmo quando cuidam de difundir conteúdos especificamente educativos, além dos culturais, posicionam a sua comunicação ao nível do ensino fundamental ou médio, porque tem em mira a grande massa telespectadora, a maioria da audiência, que não tem formação superior. Essa televisão feita por IES, assim sendo, em quase nada se diferencia daquela televisão educativa produzida por fundações, institutos culturais ou outros organismos não-universitários. Nunca teve, até há pouco, razão para buscar alguma singularidade.

A Televisão Universitária, como tal, é fruto do processo de segmentação da TV brasileira, que começa em 1991, com a introdução da tecnologia do cabo. Ela surge, de fato, com a promulgação da lei federal 8977, de 5 de janeiro de 1995, conhecida como Lei da TV a Cabo. Esse instrumento, em seu artigo 23, institui os chamados “Canais Básicos de Utilização Gratuita”, que as operadoras são obrigadas a disponibilizar, sem custos para os assinantes ou para os provedores de conteúdo dos canais. Entre eles, especifica “um canal universitário, reservado para o uso compartilhado entre as universidades localizadas no município ou municípios da área de prestação do serviço”.

Um canal de TV assegurado por lei, e gratuito, mostrou-se um estímulo poderoso, motivando inúmeras IES a se aventurarem no campo da comunicação audiovisual. Com a obrigatoriedade, acabavam as penosas negociações entre IES eventualmente interessadas em fazer televisão, e as empresas de radiodifusão sempre reticentes, desconfiadas da capacidade produtiva da universidade e convictas da inviabilidade comercial de sua programação. Com a gratuidade da veiculação, caíam dramaticamente os custos para as IES, que precisavam investir tão somente em produção.

Já em 1995, meses depois de sancionada a lei 8977, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, deram início à utilização do canal universitário na TV a cabo. Nas capitais e centros universitários importantes, as IES começaram a se articular, encontraram formas de compartilhamento do canal e foram lançando novas estações: em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Campo Grande, Vitória, Bauru. Em outras cidades, instituições assumiram sozinhas o desafio de manter um canal universitário: UFSC, em Florianópolis; FGF, em Fortaleza; UFF, em Niterói; UCS, em Caxias do Sul; FURB, em Blumenau; UNIMEP, em Piracicaba; UPF, em Passo Fundo; UNISC, em Santa Cruz do Sul.

A expansão da Televisão Universitária no cabo estimulou também as IES a buscarem o grande público, disputando novas outorgas de emissoras educativas abertas. Surgiram canais em Santos, Alfenas e Coronel Fabriciano. O desenvolvimento da transmissão de vídeo pela Internet, por sua vez, contribuiu para alargar o horizonte de distribuição da Televisão Universitária. A Universidade do Vale do Rio dos Sinos, de São Leopoldo, foi a primeira IES a transmitir a sua programação pela rede, usando tecnologia de “streaming”, antes mesmo de iniciar atividades na radiodifusão ou na cabodifusão.

Mesmo a televisão comercial não foi excluída, como plataforma possível de distribuição de programas universitários, nessa marcha consistente das IES no rumo da comunicação audiovisual. A PUC do Paraná, por exemplo, tornou-se fornecedora de programação cultural para a Rede Vida, o principal braço televisivo da Igreja Católica no Brasil. Embora religiosa, a emissora opera com publicidade comercial, nos moldes normais da televisão privada.

A quantidade de IES envolvidas, a variedade das propostas de programação, e a multiplicidade dos sistemas técnicos utilizados para a transmissão dos sinais são indicadores irrefutáveis da expansão da Televisão Universitária no país. Mas esses fatores positivos não eludem os muitos e complexos problemas que ela ainda tem de resolver, para se instituir como alternativa viável de modelo de televisão, no cenário audiovisual brasileiro. São problemas que merecem atenção das IES, mas que, em muitos casos, em razão da imaturidade de seus projetos de TV e da não-especialização de suas equipes – sobretudo as diretivas – sequer são percebidos em toda a sua magnitude.”

“TV Universitária: uma televisão diferente

Cláudio Magalhães*

Imagine uma televisão onde o conteúdo é tão importante quanto a forma. Onde “educativo” não é sinônimo de coisa chata, mas de entretenimento com conhecimento. Uma TV onde você veria caras novas discutindo questões atuais de pontos de vista os mais diferentes. Onde a ciência é vista como participante do cotidiano e não como algo exótico ou uma prática restrita a laboratórios inóspitos e cientistas malucos. Um lugar onde os formatos tradicionais de se fazer programas de televisão se unem a ousadias, propostas inusitadas e linguagens experimentais, propícias daqueles que ainda não se padronizaram por modelos confortáveis e conformistas.

Esta televisão existe, tímida, reclusa, propensa a erros e acertos nas mesmas proporções, mas persistente como os primeiros pioneiros de televisão no Brasil. É a Televisão Universitária.

Que não se pense que trata-se de algo novo. A primeira TV Universitária surgiu em 1967, em Recife, e foi, então, a primeira TV Educativa do país, categoria de televisão criada pelo Decreto-Lei 236, de 1967, que contrapunha a televisão comercial, já em grande expansão pelo país. Mas, embora tenha começado bem, a televisão universitária não teve grandes avanços pois, mesmo tendo preferência para as obtenções de outorgas, as universidades foram preteridas quando da distribuição de canais. As TVs educativas serviram, por muito tempo, como moeda de barganha política e de instrumento estatal de divulgação ‘oficial’, desvirtuando o objetivo de criar uma opção de televisão preocupada com o conhecimento.

O grande passo foi dado mesmo em 1995, com a Lei 8977, a conhecida Lei do Cabo, que obrigou as operadoras a criarem os “canais básicos de utilização gratuita” (Art. 23) para uso de interesse público, entre eles o canal universitário. Conquista da comunidade acadêmica, e não favor das operadoras, a legislação foi o estopim para uma primeira expressiva expansão de instituições de ensino superior (IES) em busca de sua televisão. Inicialmente utilizando-se de seus laboratórios de audiovisual dos cursos de graduação, rapidamente as IES descobriram na TV um importante instrumento de extensão acadêmica e contato com as comunidades de seu campo de atuação, institucionalizando sua estrutura e fazendo com que a TV servisse ao projeto geral da entidade.

Hoje existe mais de 30 canais universitários a cabo e 15 televisões educativas abertas mantidas por IES, envolvendo cerca de 100 entidades acadêmicas produzindo TV. Esta expansão fez com que surgisse a ABTU – Associação Brasileira de Televisão Universitária, que agrega IES produtoras de TV, tanto a cabo como aberta, e que é a interlocutora do segmento. A outra atividade da Associação é incentivar as IES a fazerem TV universitária das mais diversas maneiras possíveis.

É que um dos conceitos de Televisão Universitária mais adequados é aquele que prevê a produção por Instituições de Ensino Superior (IES) e transmitida por canais de televisão (abertos ou pagos) e/ou por meios convergentes (satélites, circuitos internos de video, internet), quaisquer que sejam eles e que tenham potencial de crescimento de audiência. Ou seja, desde que a produção audiovisual seja realizada pela comunidade acadêmica e saia do ambiente restrito da sala de aula e dos laboratórios, se está fazendo TV Universitária. E a difusão é tão importante quanto a produção pois é esse o caráter da televisão.

Não importa se é produzido pelos alunos, professores, funcionários, pesquisadores ou todos eles em conjunto, mas sim que seja pautada estritamente à promoção da educação, cultura e cidadania e que tenha o desejo de ser visto pelo maior número possível de pessoas. Daí, produzir e transmitir para uma cidade de 1 milhão de pessoas ou levar um programa de prevenção aos postos de saúde do município, se está fazendo TV Universitária.

Por ser um segmento bastante interessante, juntando a sisuda academia com a nem sempre tão bem comportada televisão brasileira, a TV Universitária tem sido, cada vez mais, objeto de estudo. Não é para menos, já que, até recentemente, era ainda grande o número de professores e pesquisadores que olhavam de nariz torto para a televisão. Ver a academia se apropriando de um veículo muitas vezes rejeitado é algo a se estudar. Diversas IES já incentivam seus estudantes, tanto na graduação quanto na pós-graduação, a desenvolverem projetos que estudem, pela academia, o segmento de TV universitária nos seus mais diversos aspectos.

Não há, no entanto, uma linha de pesquisa específica para isso, centralizada ainda nos programas de comunicação social, com honrosas exceções. Alguns destes trabalhos podem ser visitados na página da ABTU , de longe o site com o maior volume de informações do segmento, inclusive com notícias atualizadas da movimentação do setor.

Haveria muito ainda o que dizer da TV Universitária do que nos permite o espaço. Principalmente em relação a difusão de conhecimentos gerados na academia, ao seu potencial de promoção e reforço de valores de convivência democrática, o atendimento a demandas de informação e de entretenimento, a inclusão e a participação social, o apoio às comunidades, tudo que hoje a TV tradicional não oferece a contento e que a TV Universitária, não só tem o potencial para tal, como está na sua gênese. Sem esquecer de todos os problemas institucionais, dilemas conceituais e confrontos que esta proposta de TV alternativa oferece.

Basta terminar dizendo que acredito em uma TV Universitária feita com esforços conjuntos: dirigentes, professores, funcionários, alunos, instituições sociais públicas e privadas, empresas, telespectador. Pois é assim o caráter da atividade de tudo que é público e social: difícil, traumático, demorado. Mas formador, cidadão, democrático.

(Artigo Especial para o C&T JOVEM 31/10/2003)


* Cláudio Magalhães é Mestre em Comunicação Social e Doutorando em Educação, ambos pela UFMG.
É jornalista e professor, vice-presidente da ABTU – Associação Brasileira de Televisão Universitária, coordenador da TV UNI-BH Inconfidentes, Ouro Preto/MG e autor do Manual para uma TV Universitária.”

“Jornalismo em tempo real

Sobre webjornalismo


O webjornalismo tornou-se uma nova modalidade de comunicação viável na Era dos Computadores. De uma forma instantânea, essa veículo de informação chega a milhares de computadores interligados em rede.

No webjornalismo a notícia é a ferramenta básica. Uma de suas principais forças é a velocidade como a notícia de fato é processada. O internauta é capaz de receber três acontecimentos ou mais quando as circunstâncias estão acontecendo, todos atualizados. Seu formato tem que ser conciso, sintético, colocado em ordem direta: sujeito, verbo e predicado.

Outra característica do webjornalismo é a possibilidade e a diversidade de links, conhecida como a hipertextualidade. A segmentação é muito forte como esporte, economia, política....

A desvantagem, comparada a outros meios, é que nesse meio de informação, a publicidade conseguiu seu grande espaço, não deixando um certo tema ter profundidade em um assunto por demanda de espaço, contribuindo para que haja um maior poluição visual. Esse tipo de acesso interpretado pela ótica social, ele é excludente. Há sites que não tem credibilidade no que publicam para chamar atenção do leitor.

José Pompílio

Perfil do leitor da web

Os leitores de jornalismo on-line têm um perfil jovem entre 18 a 25 anos, onde destaca a juventude, o dinamismo e a procura por meios eletrônicos. O jovem de hoje é o reflexo da infância do vídeo game de antigamente, desde então as crianças foram sendo alimentadas por meios eletrônicos, que reforçaram essa atitude dos dias modernos.

Fica bem claro que quem lê na internet geralmente nunca está só lendo o jornal, sempre está fazendo outras coisas como, por exemplo, trabalhando, falando com alguém no telefone e mandando e-mail para um amigo, isto é sinal que quando estamos em frente de um computador ficamos liberados para fazer de tudo um pouco, coisa que para um leitor de jornal impresso, fica quase que impossível fazer tudo ao mesmo tempo.

Vivemos numa sociedade de informação, mais apenas absorvemos dados, tudo é muito rápido e jamais veremos algum usuário de e-mails escrevendo cartas e se deslocando até o correio para posta-las, porque com a internet há mais interatividade e dinamismo em qualquer meio.

O usuário quando senta e acessa um portal qualquer, ele se sente único e gosta de ser ouvido, portanto ele acaba interagindo com outras pessoas, com essas mudanças o padrão de informação e entretenimento de massa modificou competindo entre si.

No conteúdo on-line vai muito mais além do que textos, fotos e gráficos, ele se completa adicionando vídeo, áudio e ilustrações animadas, o conteúdo estará espalhado por quase todos os produtos oferecidos nos endereços eletrônicos da rede.

O leitor de web quer ter em mãos a realidade e o humor e o jornal virtual é a expressão máxima de tudo isso.

Shirley Pinto

O caso das agências

Com a globalização, os veículos de informação têm que, cada vez mais rápido, informar aos seus leitores sobre o que acontece no mundo inteiro. Diante desta necessidade, como não seria possível manter correspondentes ou enviados especiais em todas as cidades do mundo nem receber as notícias com a suficiente rapidez, nasceram as agências de notícias que funcionam com mais imparcialidade do que os outros veículos de comunicação e têm um padrão de qualidade e de credibilidade bastante rigorosos. A primeira delas foi organizada por Charles Havas, um francês de origem húngara, em 1835. A Unesco define a agência de informação como “ empresa que tem principalmente por objeto, qualquer que seja a sua forma jurídica , obter notícias e documentação de atualidades, que sirvam para exprimir ou representar os fatos, distribuindo-os a um conjunto de empresas de informação e, excepcionalmente, a particulares, mediante o pagamento de determinada importância, de acordo com as leis e usos comerciais, sempre à base de um serviço mais completo e imparcial possível.” As agências têm como função colher a informação, transmiti-la, elabora-la e difundí-la dentro do menor prazo possível. Elas dispõem, para tanto, de meios e serviços apropriados, cuja peça principal é, sem dúvida, sua enorme rede de correspondentes espalhada pelo mundo inteiro para receber as notícias em toda parte e a qualquer momento.

Jornalista, professor universitário e correspondente da Agência Estado desde maio de 1998, Lauriberto Braga nos contou um pouco sobre a sua experiência como correspondente e falou também sobre o funcionamento interno de uma agência de notícias. Segundo Lauriberto, pela manhã são enviadas à agência as sugestões de pauta que serão levadas a uma reunião de pauteiros onde são decididas as matérias que serão produzidas no decorrer do dia. Após a produção da matéria, elas são editadas e disponibilizadas no site da agência. O funcionamento das agências de notícias, normalmente, é de segunda a sexta, de 7h30 às 19h. Após a produção da matéria, elas são editadas e disponibilizadas no site da agência. Os correspondentes não cumprem expediente e são remunerados de acordo com o que produzem, em média R$ 50,00 por cada dez linhas escritas.

A partir do ano de 1995, as agências de notícias sofreram um impulsionamento causado pelo avanço da internet que fez com que as agências alcançassem um maior público e fossem mais procuradas pelos assinantes devido à instantaneidade das informações. “Não pensem em montar uma agência para os clientes te manterem, você tem que expor o seu material para conquista-los”, aconselha o professor.

Caroline Lemos”












Inferências objetivas

Do amostrado aqui, é latente e plausível a emancipação de movimentos de comunicação pró rádio, tv e web acadêmicas, formando o profissional midiático pleno e oferecendo importante parcela de serviço cidadão à comunidade universitária e em geral.
Portanto, se a lógica da globalização é excluir digitalmente os desinformados e desamparados leigos da sociedade do conhecimento informatizado, os movimentos sociais educomunicantes progressistas (nos espaços/tempos universitários ou outros) devem equiparar-se em instrumental em tal enfrentamento simbólico das convenções mercadológicas e ideológico-alienante das manifestações de toda linguagem humana, pois na sua essência e existência cotidianas se faz inadiável a elaboração de estratégias para combater a opressão de direitos e confirmar a liberdade de expressão, informação e comunicação.
Seja este objetivo real dos acadêmicos do jornalismo de ora para frente, meta para os já profissionais docentes em constante reciclagem de saber e desafio para os administradores das instituições públicas, gratuitas, qualificadas e dignas de serem chamadas universidades.












Referencial bibliográfico

BRASIL. [Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.] Alternativas de Alfabetização da América Latina e o Caribe.Brasília: INEP, 1988. pp.17-28 (Série Encontros e Debates)

DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania.São Paulo: Moderna, 1998. (Coleção polêmica)

DIAZ BORDENAVE, Juan E. O que é Comunicação.São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção primeiros passos)
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire; [tradução de Kátia de Mello e Silva; revisão técnica de Benedito Eliseu Leite Cintra] 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.

(Principais sítios consultados na internet)

http://www.abtu.org.br/default_home.asp

http://www.fazendomedia.com

http://www.intervozes.org.br/digital/manifestos/manifesto0.htm

-x-X-x-
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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Dos processos em juízo (ode)

(...)

-:-

Uma porta com placa de acrílico
ou papel em branco e fita adesiva.

Uma antesala com longarinas de palhinha
ou acolchoado de felpudo.

Um balcão de infantes da lei,
da ordem e
do julgamento em processo.

E os armários, ah, os armários...!
Eles guardam, recepcionam e encaminham
não meros números, não meras penas ou despachos;

Não: na verdade eles conduzem vidas,
destinos, caminhos e memórias -
para futuros justiceiros,
operários que são do direito,
por dever de ofício.

Eis aí ante o exposto uma súmula singela,
um novel escrevinhado em curso,
na rotina forense.

Sub judice.

Escrevente juramentado:
J.P.S.M.

O referido é verdade e dou fé, palavra e assinatura abaixo subscrita.

-:-
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