Blog liberto a público de arte abstrata-concreta, literatura mundana, jornalismo experimental e direito cotidiano. ¡Pensare reactivus est!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O VERDICTO DE DR. JEREBEBEL


CONSULTA MÉDICA

Waldélia nos recepciona com um leve mexer do pescoço e cabeça, agitando os longos cachos castanhos de cabelo. Prestativa, ouve a pergunta atenta, solicita os documentos e requisição do paciente e avisa:
- O dr. Jerebebel só começa a atender às 16h; aqui já está marcado, se você tiver algum compromisso ou negócio pra resolver no centro pode ir que dá tempo voltar antes da consulta.
Pensei mentalmente o que ainda teria de resolver naquele meio tempo, pois ainda eram 14h no relógio do celular. Lembrei exatamente que tinha um relógio de pulso pra colocar bateria nova e um presentinho para comprar p’ras festas natalinas familiares. Pegando e observando o interior da carteira descobri que o relógio sim, teria como pagar-lhe a bateria nova; quanto ao presentinho não, este teria de ficar para outra ocasião.
Andei um pouco, flertei com algumas promoções de vitrine de loja, até chegar à joalheria. O endireitamento do relógio fora rápido, nem deu tempo sequer de entrar em fila: além da bateria ele ganhou uma limpeza no mostrador e na pulseira, tudo por conta da casa. Lanchei um pastelão de carne moída com verduras ali na lanchonete do lado por um preço rezoável. Ao passar próximo à praça Rio Branco não pude deixar de notar a badalada do antigo relógio totem: me restava apenas uma hora!
Queria saber ainda do preço de umas coisas no comércio antes da consulta ao médico; vestuário, calçados, utilidades para o lar principalmente. Só deu pra pegar e anotar o preço da lavadora de roupas, do forno elétrico e do terno preto. Só.
Voltando ao hospital, chequei e ainda faltavam uns cinco minutos; por sorte chegara a tempo de ir ao banheiro e beber um copo d’água mineral no bebedouro. Estava cansado de tanto caminhar no velho centro.
- Waldélia, quantos ainda antes de chegar minha vez?
- Apenas três e um paciente prioridade, viu sr. Joe?
- Oquei, fazer o que não é? (sorriso amarelo)
Desviei a vista para o birô da atendente-secretária do outro lado: ignorando um pouco os sons do ambiente eu a via bailar com destreza e harmonia de uma sala de consultório para seu birô, dançando no vaivém de papéis, telefonemas, mensagens de computador e encaminhamentos. Tão perita na arte de dançar conforme a rotina que nem se dá conta da plástica e mística de seus movimentos! A farda de modo algum lhe retirava o brilho; antes, acentuava-o.
- Sr. Joe Sousilva; depois da sra. Laurência, ouviu?
Assim que a velhinha retirou-se, adentrei no consultório; dr. Jerebebel concentrado e sério como de costume; após visar os exames, pediu que me deitasse no leito e observou:
- Está curado; apenas uma pequeníssima sequela quase imperceptível: cicatrização concluída.
- Obrigado por tudo doutor! Espero vê-lo apenas socialmente, agora; se Deus quiser!
- De nada, boa tarde. É só não fazer extravagâncias e se cuidar bem daqui por diante.

(João Paulo Santos Mourão/ dezembro de 2011)

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Poesia de mercado e de internet (ou anti-dadaísmos puros)

Sim, leitor e leitora: hoje temos poetas em ação fora dos círculos, salões e rotas literárias oficiais, longe dos lançamentos formais; e muitos dos quais ali nascidos no momento vago entre aulas, no intervalo do serviço, na troca de turma ou de turno, entre um trabalho e outro, na pausa da fila de repartição, na parada de almoço ou de jantar.
Chamemo-los de tecnopoetas - pois hoje também os suportes, domínios e plataformas são outros: a tecnopoesia ganha o mundo em frações de segundos, por várias mídias. Nós, os críticos e resenhistas, é que estamos a nos adaptar aos novos formatos e pensares deles.
Cada vez maior é o número de poesias propaganda, poemas para publicidade: dos mais ricos e requintados públlicos até os mais paupérrimos e desclassificados consumidores da massa. É aí que a poesia passa de linguagem abstrata a concreta, de mero ler de fruição a austero ler de desejo: o fetiche em verso e reverso!
Daí ela passa de boca em boca, de mensagem em mensagem, de email em email, até que seja capturada, adaptada e reescrita para fins de mercantilização; a essa altura, o autor ou a autora original já foi desconsiderado(a) e apagado(a) do cenário.
Então, o viral de internet até a camiseta da campanha logo chegam às lojas, depois aos públicos consumidores, os quais compartilham a nova moda do momento entre si, até que surja outra melhor e mais nova, além de supostamente muito melhor.
Um dia essa poesia chega ao autor verdadeiro ou autora verdadeira e - em geral - êle (èla) descobre o quanto sua mensagem fora modificada e alterada.



Mas agora já é tarde demais; não adianta chorar a ideia tomada. É preciso saber lidar com esse novo sistema e seus operadores.

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sábado, 5 de novembro de 2011

Feira tradicional do nordeste: uma bodega e suas cenas

Uma ida à feira no centro, manhã de sexta-feira rural.
O calçamento, as portas e janelas, casario colonialesco.
Umas tapiocas, umas rapaduras, meio "litro" de farinha, uma peça de queijo e uma pesada de carne de sol.
Aquela faca de usar no cós da calça para ir ao mato.
O vendedor conhece os clientes por nome, sobrenome e localidade.
O telhado de toscas armações de palmeira, amarrações de embira de palha e telha branca.
As paredes escavoucadas, por pequenos incidentes e por maus elementos da roça deliberadamente ruins.
Os ladrilhos de argila cozida ecoam ao pisado de alparcatas e botas velhas.
Meninote esperto ganha seus centavos em moedas ao levar cargas para algum cidadão de bem.
Pessoas simples conversam na calçada e no comércio a trocar novidades mercantis e etc. e tal.
Miudezas em geral e espécies de toda grandeza.
Prateleiras, Estantes, Estufas, Balcão, Cadeiras e Tamboretes.
Latas, Garrafas de vidro, Potes de cerâmica e de plástico, Sacolas.
Volumosos caixões de madeira guardam gêneros.
Algumas caixas de cerveja e carnes-secas dependuradas na despensa.

Estamos em uma bodega no interior do Nordeste brasileiro!


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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Política no dia-a-dia jornalístico brasileiro: 2011, começo do segundo semestre

Dia 28/08/2011, dentro do Programa Sílvio Santos, o governador de São Paulo - Geraldo Alckmin - aparece; na ocasião é indagado sobre sua juventude em Pindamonhangaba (cidade na qual exercera os cargos de vereador e prefeito), quando viera à TVS (atual SBT) participar de um programa de jogos chamado "Cidade X Cidade"; em seguida, é perguntado pelo animador e apresentador Sílvio Santos sobre algumas leis polêmicas no âmbito do estado de São Paulo (por exemplo, a de exigência de documento de identificação oficial indicador de maioridade para aquisição de bebida alcoólica, etc.).
Perguntas:
- Qual o intuito (causa) dessa visita especial na emissora pelo político?
- Por que o programa/ o horário escolhido foram aqueles, da parte da emissora? E da do político?
- Como a população telespectadora entendera a aparição do político no programa?




(fonte: Google/créditos da foto: http://noticiasdatvbrasil.wordpress.com/2011/08/28/silvio-santos-recebe-homenagem-do-governador-geraldo-alckmin-neste-domingo/ )

Dia 03/09/2011, dentro da programação jornalística do SBT Brasil (e do Jornal Nacional da Globo e Jornal da Record também) foi dado espaço ao anúncio da regularização do contrato de construção e de entrega de um novíssimo estádio - o "Itaquerão" - ao Corínthians Paulista para abertura da Copa do Mundo de 2014 no Brasil; o evento contou com a presença de Lula.
Perguntas:
- Por que especificamente Lula foi chamado para o evento?
- Qual a diferença se o político chamado fosse, ao invés disso, o tucano José Serra?
- Como a população presente e a população telespectadora reagiram ao episódio?

Dia 11/09/2011, a apresentadora do Fantástico, Patrícia Poeta, entrevista com exclusividade a presidenta Dilma Rousseff, em seu dia-a-dia político em Brasília-DF; a conversa quase informal versa sobre temas variados (desde amenidades familiares até economia internacional e política ministerial).
Perguntas:
- Qual o significado (inclusive político), além da suposta sabatina após os primeiros seis meses de governo pela mídia, da referida entrevista?
- Por que os "lugares de discurso" escolhidos foram todos esvaziados (como se a entrevista fora realizada no recente feriado de 07/09 e depois apenas editada...)?
- Como a população internauta (que acessou o conteúdo da entrevista apenas via internet) e os telespectadores assimilaram a entrevista?


(fonte: Google/créditos da foto: tvglobointernacional.globo.com )


É um bom roteiro de dúvidas que me acorreram no momento; como bom brasileiro! Científicas ou não, são as dúvidas de um acessante crítico da mídia aberta nacional sobre temas de interesse.

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