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sábado, 17 de novembro de 2012

Que festa?



Que Festa?

Festa...
Festa pra quê?
Festa pra quem?
Afinal

Festa, festa pra comemorarmos o quê?
O universo caótico e assim equilibrado?
As etnias mundiais terrenas que se digladiam matam e destroem?
Os povos nacionais que ora se eliminam pela força bruta ora pelas mentiras?
As comunidades que miseravelmente são estropiadas insensivelmente?

Festa, há ainda o que motive comemorar em festa?
Festa, há ainda quem mereça ir a festa?
Festa, há ainda quem comemore algo ou alguém em festa?
Enfim

Festa?
 Festejar como, se a alegria inexiste e o prêmio é sempre falso
Mais hora, menos hora; um festeja a desgraça do outro;
Vários poucos felizes festejam sobre as muitas únicas desgraças infelizes
Você festeja sobre a minha desgraça e vice-versa, ou revide-festa(!)
Eu abstenho-me de tripudiar sob a dor que já sinto e pressinto crescida
Você, decida-se; a quem tu serves, qual o teu servir, como é teu serviço?
Pois de festas ineficazes e tolas, a sociedade abastece-se com vícios
Vícios dependem de viciados; viciados vitimam a si, a outrem, a sociedades
E o ciclo de festas infestejáveis recicla novos-velhos festeiros farsificados




Festa ?
Esta festa de fazer com que pessoas que se gostam sejam enganadas por outras que as não gostam e assim as fazem desgostar-se umas às outras e ainda daqueles festins dos outros que acintam os uns para festa daqueles;
Tudo isso é motivo de festa aos que se gabam de gozar festa à toa.
Permita-me, todavia, dizer a vós, a quem quiser de vós ouvir-me: não consinto em festas irreais e afasto-me do falso, posto não suportar ver travestida de irrealidade uma comemoração qualquer inventada ao léu.
Mas não que me seja comum tristeza, desimportância à vida e aos seus viventes costumeiros seres; não significa achar assim apenas o mal amargor da vida e das criações de viventes insignificantes que somos para o grande aventurar do universo ou universos.
Penso que quando uma pessoa manifesta chateação, raiva ou agitação, esta sim me representa sentir e ter sentimento de algo na vida, não quem me manifesta apenas animação, gosto ou estabilidade, esta somente falseia e tem falsidade de tudo à vida que lhe foi concedida.
De sorte que, para não ser insensível também, hei hoje pensado, escrito e reprisado estas intenções à uma pessoa minha amiga, que por ventura do destino, do acaso ou do impossível de predizer, esteve um pouco mais agitada hoje que o usual e me disse umas poucas e não tão boas quanto a da expressão idiomática: diria eu ainda “melhores”, neste conotativo aspeado e superlativizado termo.
Mas em momento algum, eu resisti à tentação de dizer um gracejo, uma palavra feia ou mais “festiva” entre os mau-humorados e fazedores de festa com a desgraça alheia.
Felizmente, desisti de tentar uma explicação que só faria piorar os ânimos; sincera e delicadamente, resignei-me ao sacro e – dizem – sábio silêncio providencial do tempo e do espaço e da forma. Não discuto com quem gosto, se a pessoa não está merecedora de discussão em questão de outra alçada.
Infelizmente, não gosto todavia de ficar com a impaciente impressão de que a pessoa não entendera meu gesto e a qualquer momento poderá pensar diferentemente de mim, a me intentar mal, pensar erradamente de meus feitios, ou ainda pior: imaginar coisas improcedentes a meu respeito.
Por isto, de agora em diante, como autopunição social e que ela se note por todos, amplio minha promessa outrora jurada em secreto e declaro que meu sorridente ou meu entristecido semblante estará cada momento que passa mais distante das festas - especialmente as dos outros sobre a desgraça alheia conforme já sobremencionado.
 E minha rotina não chegará ao conhecimento de festeiros de última categoria pela desgraça minha, das pessoas de minha convivência e/ou quem quer que seja/esteja inteiro na amizade para comigo.
Termino, por ora, esta missivazinha que vai a quem interessar possa, a lembrar a mim mesmo: Festa? Festa pra quê? Pra quem? Por quê?
Festa, vossas senhorias, é não precisar de festas para sentir por um minúsculo instante a felicidade (qual uma gotícula de orvalho na terra semeada de porvires – no plural).
Festa, essa sim das que gosto de participar e partilhar, é o sempre estar em paz consigo, de corpo, alma, espírito, encarnado por inteiro, sensitivo ao insensível aos sentidos vagos, sem carecer de simulações ou artifícios vis.
Mas desta festa, devo dizer, prefiro não participar ou partilhar com quem dela não tome parte ou tenha participado a construir altruisticamente. Pois não entenderá, tampouco merecedor será do júbilo dela advindo.
Esta festa, senhorias, chama-se “cotidiano”; não fecha-se em cubículos ou grades ou paredes ou cúpulas. Apenas vive-se, não se comenta em vão.

Jotapê
17/11/2012.

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